segunda-feira, 8 de setembro de 2008

- POLUIÇÃO NA BAÍA DE SEPETIBA

(código PDF - 080908)

Poluição na Baía de Sepetiba

“Trabalho entregue como requisito para a conclusão da disciplina de Ecologia Marinha”

Curso de Oceanografia da UERJ

Autor: Wiktor Waldemar Weibull

Janeiro / 2001



INTRODUÇÃO

A Baía de Sepetiba seria ainda uma das áreas costeiras mais aprazíveis do estado do Rio de janeiro, como ainda o é a Baía de Ilha Grande, se não fosse o alto grau de poluição orgânica e inorgânica que está potencialmente submetido o seu corpo d’água.
A qualidade das águas da Baía de Sepetiba segue lentamente um caminho semelhante ao percorrido pela Baía de Guanabara, embora com características de degradação distintas, mas que levam a um quadro preocupante e desanimador.
A expanção industrial na direção oeste da Região Metropolitana, o aumento do número de oportunidades de emprego e o baixo preço da terra loteada acarretam um significativo crescimento populacional na região hidrográfica nos últimos vinte anos.
A política de polarizar o crescimento industrial para áreas menos congestionadas levou o Governo o Estado a criar na região os Distritos industriais de Santa Cruz, Campo Grande, Nova Iguaçu e Itaguaí.
Mais uma vez, o crescimento da ocupação do solo de forma desordenada com o conseqüente aumento da concentração populacional em torno das sedes municipais, não foi acompanhado dos devidos investimentos no setor de saneamento básico.
Atualmente, estima-se uma população da ordem de um milhão, duzentos e noventa mil habitantes, cujos esgotos domiciliares produzidos degradam diretamente a qualidade sanitária do das águas que fluem no lençol freático (águas subterrâneas mais próximas ao nível do solo) através de sistemas individuais de fossas sépticas e sumidouros ou, quando lançados sem tratamento em valões, córregos ou rios acabam afetando a qualidade das águas, não somente destes, mas, da própria Baía de Sepetiba, que é o receptor final.
Com relação à poluição industrial das águas e sedimentos da Baía de Sepetiba, é lastimável o quadro atual em decorrência do lançamento de efluentes líquidos e resíduos tóxicos sem o devido tratamento.
Uma área de rara beleza paisagística e rica de ecossistemas naturais como é a Baía de Sepetiba e seu cordão de manguezais, jamais poderia ter recebido durante anos, junto às suas margens, rejeitos altamente tóxicos e cumulativos na cadeia alimentar, constituídos de altas concentrações de metais pesados, principalmente o zinco e o cádmio.
O cádmio, mesmo em concentrações baixas, além de ser altamente tóxico para determinadas espécies aquáticas, tem efeitos sobre o organismo humano, podendo se acumular lentamente em vários tecidos do corpo como os ossos, fígado, rins, pâncreas e tireóide.
O zinco, também cumulativo, causa sérios problemas na fisiologia, principalmente dos peixes, tornando-os impróprios para o consumo. O homem ao se alimentar sistematicamente desses peixes contaminados, pode adquirir problemas de pele e mucosas.
Apesar da degradação lenta da qualidade das águas e dos sedimentos da Baía de Sepetiba durante os últimos 30 anos, seu corpo d’água ainda se constitui em um criadouro natural de várias espécies de relevante interesse comercial, a citar, o camarão e peixes como a tainha, parati, pescada, pescadinha, corvina, etc...



Natureza do Problema

A Baia de Sepetiba, com área de aproximadamente 305 km2, encontra-se limitada à nordeste pela Serra do Mar, ao norte pela Serra de Madureira, a sudeste pelo Maciço da Pedra Branca e ao sul pela Restinga da Marambaia. E um corpo de águas salinas e salobras, comunicando-se com o oceano Atlântico por meio de duas passagens, na parte oeste, entre os cordões de ilhas que limitam com a ponta da Restinga e, na porção leste, pelo canal que deságua na Barra de Guaratiba, o que lhe confere uma configuração quase elíptica. O perímetro da baia é de aproximadamente 130 km.
A Baia, juntamente com suas áreas de mangue e zonas estuarinas constitui criadouro natural para as diversas espécies de moluscos, crustáceos e peixes existentes neste ambiente, sendo a atividade pesqueira importante suporte econômico e social para a região, que possui, ainda, indiscutível vocação natural de centro turístico.
Existem três Colônias de Pesca, a de Pedra de Guaratiba (Z-14), a de Sepetiba (Z-15) e a de Itacuruçá (Z-16), com aproximadamente 3.500 pescadores registrados e 1.500 não associados, o que caracteriza um papel importante na economia regional.
Áreas típicas de turismo são as ilhas da Madeira, Martins e Jaguanum, parte da ilha de Itacuruçá e três cachoeiras: Mazomba, Itimirim e Bicão. Das ilhas inseridas na Baia de Sepetiba, Itacuruçá apresenta o maior número de habitantes fixos e o maior índice de ocupação em relação às demais.
Já os municípios de Itaguaí, Mangaratiba e Sepetiba, assim como o distrito de Itacuruçá, com suas praias e ilhas, compõem uma região de rara beleza, e grande potencial turístico e de lazer.
A Baia de Sepetiba, estando localizada no mais importante entorno geoeconômico do Brasil, que abrange as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória, onde, num raio de 500 km, concentram-se as maiores atividades sócio econômicas da população, vem, por isso mesmo, sendo considerada uma área potencialmente catalisadora de desenvolvimento do pais; a região desponta, ainda, como um dos pólos industriais do Estado do Rio de Janeiro.
A atividade industrial deste parque é responsável pelo lançamento de várias substâncias potencialmente tóxicas na Baia, destacando-se os metais pesados.
Entre as indústrias destaca-se, inicialmente a Cia Mercantil INGÁ, atualmente em situação falimentar — que tem, em termos de passivo ambiental, um peso considerável sobre o ecossistema da região da Baia de Sepetiba. Seus estoques de resíduos, acumulados há mais de 30 anos, no local de produção, ameaçam e fragilizam o equilíbrio ecológico da Baia de Sepetiba, sendo de responsabilidade da empresa a contaminação dos sedimentos marinhos por metais pesados. É importante considerar, ainda, que o movimento das marés pode transportar, para a zona estuarina da Baia, os poluentes presentes nas águas da Baia, provenientes da INGÁ, como também de outras empresas.
O Porto de Sepetiba, já existente para carga a granel (minério, carvão, enxofre, etc...), está em fase de ampliação, com previsão de recebimento de navios de cabotagem de até 150.000 toneladas, tendo sido necessária a realização de vultosas obras de dragagem, para o aprofundamento do canal, o que significa uma intervenção potencialmente poluidora, devido ao revolvimento dos sedimentos e possível remobilização de metais e, também, um aumento significativo de futuras atividades, igualmente com elevado potencial poluidor.
A baia de Sepetiba, atualmente, começa a sofrer os problemas de eutrofização, especialmente em pequenas enseadas, nas áreas mais próximas à linha de costa e nas áreas de influência das desembocaduras dos rios, afetada direta e significativamente, pela poluição orgânica.
O crescimento de algas pelo aumento das concentrações de nitrogênio e fósforo e a diminuição da transparência nos corpos d’água, estão associados a mudanças no índice de diversidade; começando a ocorrer uma sucessão de indivíduos, que passam a dominar sobre aqueles mais adaptados a águas poluídas.
Assim, a Baia de Sepetiba, até então considerada relativamente pobre em termos de fitoplâncton, começa a reagir às pressões impostas pela ocupação de sua bacia hidrográfica sem adequada infra-estrutura de coleta e tratamento de esgotos sanitários, e pelas atividades desenvolvidas dentro da própria Baía.
Deve-se considerar que as obras de dragagens, realizadas recentemente, em especial aquelas mais próximas da costa, onde o sedimento é muito fino com uma parte significativa de matéria orgânica adsorvida, disponibilizou e mobilizou para a coluna d’água parte desta contaminação; tendo sido observado nos últimos dois verões, fenômenos de grandes florações de algas, modificando a cor da baia. Não foi ainda caracterizado, de fato, um “bloom” de algas, porém, já há indicações de que a Baia de Sepetiba, em condições adversas, como altas temperaturas e em períodos de longa insolação, pode vir a apresentar um quadro critico, no que diz respeito às suas condições tróficas.
A bacia contribuinte à Baia de Sepetiba, com uma área de aproximadamente 2500 km, está inserida em dois conjuntos fisiográficos distintos: vertente da serra do Mar e uma extensa área de baixada, recortada por inúmeros rios, composta de 22 sub-bacias. Além das águas provenientes das sub-bacias hidrográficas, ela recebe, por transposição de bacia, parte das águas do rio Paraíba do Sul, aproximadamente 160 m3 1 s, que são desviadas na barragem de Santa Cecilia, vindo depois atingir o Ribeirão das Lajes, um dos formadores do rio Guandu e do canal de São Francisco.
Os problemas da bacia contribuinte à baia devem ser abordados considerando as áreas a montante e a jusante da captação do sistema Guandu.
Apesar da poluição, proveniente do rio Paraíba do Sul, se fazer presente no rio Guandu de forma atenuada, devido ao tempo de trânsito das águas e sedimentação nos reservatórios do sistema Rio Light, considera-se que a maior ameaça à tomada d’água da CEDAE, no rio Guandu se deva ás atividades humanas exercidas na própria bacia hidrográfica, ou seja, no trecho Ponte Coberta tomada d’água Guandu, visto que o impacto provocado por esta poluição é muito mais imediato, não existindo qualquer mecanismo de mitigação de acidentes e/ou contaminação sistemática.
A ocupação urbana da bacia do rio Guandu, refletida pela tendência natural da expansão da Região Metropolitana para a Baixada Fluminense e Zona Oeste, contribui significativamente para a poluição do rio e seus afluentes, traduzido principalmente pelos altos teores de coliformes fecais encontrados.
A atividade de extração de areia na sub-bacia do rio Guandu vem se processando de forma inadequada, com destruição das margens originais, induzindo a um processo continuo de alterações do alinhamento, com largura aumentada e aprofundamento da calha dos rios, com modificações graves no regime hidráulico, formação de bolsões e abertura de crateras no leito do rio.
Durante muito tempo, a estratégia da engenharia fluvial e hidráulica esteve orientada no sentido de retificar o leito dos rios para que suas vazões fossem dirigidas para jusante pelo caminho mais curto e com maior velocidade de escoamento. Dentre os objetivos principais destacam-se; obras realizadas, por pressões exercidas pelo aparecimento de novas áreas de ocupação e outras implantadas para minimizar os efeitos locais das cheias. A invasão das áreas marginal dos rios fez também, com que os processos de erosão e desbarrancamento promovessem o aumento da vazão sólida nos cursos d’água, causando o assoreamento em trechos dos rios com menor velocidade de escoamento e também nos seus deitas.
A grande parte dos municípios, compreendidos na bacia da Baía de Sepetiba, não conta com serviços de coleta de resíduos sólidos. Observam-se os baixos índices de atendimento de coleta de lixo urbano e mais precária ainda, é a situação de disposição final desses resíduos, sendo comum o lançamento em lixões, que em grande parte estão localizados às margens dos rios e em encostas e próximos a aglomerações urbanas, resultando em uma grave degradação ambiental. A situação mais grave encontrada é a do lixão de Japeri.
O bairro Cabuçú contribui significativamente, para a poluição dos rios Ipiranga e Cabuçú, ao que tudo indica, através de pequenas atividades poluidoras, não identificadas.
As áreas drenantes à Baia de Sepetiba, situadas a jusante da captação do Guandu, estão sujeitas à influência crescente de atividades urbanas e industriais da região do Grande Rio. O aumento desordenado da população, sem a correspondente ampliação da infra-estrutura de saneamento adequada, o grande volume de resíduos industriais e o uso, ainda que moderado, de agrotóxicos nas atividades agrícolas, representam fontes poluidoras para as águas da bacia. Pode-se considerar uma concentração populacional, localizada principalmente na área urbana, de cerca de 1,7 milhões de habitantes. Estes fatores resultam em sério comprometimento do solo e, maior ainda, dos corpos d’água.
Uma indústria que merece ser citada é a COSIGUA — Companhia Siderúrgica Guanabara. Em termos de poluição hídrica, responde por 94% do potencial de toxicidade de efluentes líquidos do conjunto do setor industrial da Bacia, decorrente, tanto pela combinação dos tipos de poluentes inerentes ao setor siderúrgico, quanto pela magnitude da vazão de efluentes líquidos por ela lançados, no canal de São Francisco, em torno de 119.000 m3/ dia.
O Distrito Industrial de Nova Iguaçu constitui-se em outra grande ameaça à tomada d’água do Guandu, principalmente devido a sua localização, a apenas 7 km a montante da captação, estando a desembocadura do rio Queimados, seu corpo receptor, a apenas 300 metros da tomada d’água, não existindo, portanto, tempo suficiente para mistura completa de suas águas com as do rio Guandu. Esse rio recebe os dejetos da área urbana de Queimados e está na zona de influência de projetos agrícolas. As sub-bacias dos rios Queimados, Poços, Ipiranga, Cabuçú e Sarapó, apresentam, em ordem decrescente, os maiores riscos à captação da CEDAE.
Esse conjunto indica que, no contexto sócio-econômico atual, a região pode ser considerada em fase transitória em relação ao potencial industrial. Nesse processo o que se projetar deve ser pensado de forma bastante abrangente, do contrário, os usos pesqueiro e turístico poderão vir a criar conflitos.



Características das Principais Atividades Potencialmente Poluidoras Contribuintes à Baía de Sepetiba

1 - Esgotos Domésticos

Atualmente, a bacia da Baia de Sepetiba possui uma população estimada de 1.295.000 habitantes, os quais geram uma produção de esgotos sanitários da ordem de 286.900 m3/dia.
A carga orgânica produzida na bacia é de aproximadamente 70.000 kg/dia, em termos de DBO, lançada, na prática, diretamente nos corpos d’água, já que uma parcela muito pouco significativa é dotada de algum tratamento. Com isso, observa-se a degradação dos ecossistemas aquáticos de toda a bacia hidrográfica. A situação sanitária da região é muito grave, principalmente nas áreas de baixada, sujeitas a inundações periódicas.
De modo geral, as populações da bacia carecem de um atendimento satisfatório no tocante ao esgotamento sanitário. Mesmo no Município do Rio de Janeiro, onde se encontra a maior população urbana da bacia da Baia de Sepetiba e onde o serviço é, por concessão, de responsabilidade da CEDAE, praticamente não existem sistemas coletores implantados.
Nos Municípios do interior, onde a atribuição é das Prefeituras, o pouco que existe, opera de maneira inadequada.
Nas áreas desprovidas de esgotamento sanitário, situação em que se encontra a maior parte da bacia, os efluentes são conduzidos a fossas sépticas individuais, geralmente sem sumidouro, ou, na maioria dos casos, para as galerias de águas pluviais, acarretando o lançamento direto para valas ou para fundos de vale e cursos de água locais.
A falta de uma atuação das prefeituras no sentido de conscientizar a população sobre a importância da limpeza periódica das fossas, contribui para com o agravamento da situação. A não existência desta orientação transforma as fossas, com o tempo, em caixas de passagem, com pouca ou até mesmo nenhuma depuração dos esgotos.



2 - Efluentes da Atividade Agropecuária

A oleicultura e a fruticultura são as principais atividades agrícolas da região, predominando, em Itaguaí e Santa Cruz, a fruticultura, basicamente a cultura de banana e coco.
Na região do canal de São Francisco, localizam-se algumas áreas com atividades agropecuárias. A utilização de defensivos agrícolas e carrapaticidas é intensa, podendo trazer graves conseqüências, tanto para os rios quanto para as águas da Baia, tendo em vista que muitos desses compostos são resistentes e acumulativos na cadeia biológica.


3 - Efluentes Industriais

Pode-se considerar a região da Baia de Sepetiba de suma importância, tanto pelo aspecto turístico e pesqueiro quanto pelo aspecto do desenvolvimento industrial, constituindo-se, neste sentido, num dos maiores pólos industriais do Estado do Rio de Janeiro. Esta situação, além de contribuir para com o agravamento da poluição proveniente dos efluentes líquidos, infere também o risco de poluição por acidentes no transporte de produtos, nas rodovias que cruzam os nos.
Se por um lado, a área drenante à Baia de Sepetiba já registra um número significativo de indústrias de médio porte, por outro lado o número de indústrias de grande porte é reduzido, apresentando riscos ambientais bastante diferenciados uma vez que, alguns setores industriais apresentam melhor nível de tecnologia ambiental e, conseqüentemente, melhor desempenho do que outros.
O setor de bebidas é o mais moderno e o de melhor desempenho na bacia, oferecendo uma adequada e continua operação da estação de tratamento de efluentes líquidos, enquanto que os setores providos de tecnologia mais antiga lançam, praticamente, no meio ambiente, a quase totalidade de seu potencial poluidor.
As principais tipologias industriais identificadas, no conjunto do parque industrial da bacia da Baia de Sepetiba, são as seguintes: metalurgia, química, têxtil, bebidas, minerais não metálicos e editorial e gráfico.
Por comparação com os outros setores, o setor metalúrgico é o de maior relevância, tanto em função de quantidade produzida, quanto de importância Seu potencial poluidor é considerável, seja a nível de rejeitos líquidos ou de resíduos sólidos.
A indústria química, quanto ao potencial de contaminação por efluentes líquidos e por resíduos sólidos, é a segunda mais importante a ser considerada.
O Distrito Industrial de Nova Iguaçu, onde se localizam as empresas poluidoras significativas, é um motivo de grande preocupação, pois constitui-se na maior ameaça à tomada d’água da CEDAE, junto ao rio Guandu, especialmente em função de sua localização, a apenas 71cm a montante da captação.
Cabe ressaltar que, basicamente, estão estabelecidas nos Municípios de Queimados, Itaguaí e na Zona Industrial de Santa Cruz as indústrias com considerável potencial tóxico. É necessário levar em conta que, em termos de toxicidade, a descarga em grande quantidade de uma substância de baixa toxicidade supera, em termos de danos ambientais, a descarga de uma substância considerada de alta periculosidade, porém em quantidade reduzida.
Deve-se salientar, ainda, que não basta considerar somente o efluente industrial, dissociando a importante relação entre o corpo d’água e as substâncias potencialmente tóxicas de efluentes industriais, sendo, neste sentido, de fundamental importância promover avaliações ecotoxicológicas e estudos do corpo receptor, tendo em vista, também, que a caracterização dos efluentes, por si só, possuí limitações.
Atualmente a poluição ambiental mais relevante associada ao setor industrial é relacionada à contaminação ambiental por metais pesados. Esta, embora decorrente do lançamento destes, em vários pontos do sistema hídrico da bacia, tem como principal compartimento os sedimentos do fundo da Baia de Sepetiba, em especial na sua porção leste, figurando a Cia Industrial Mercantil Ingá, com lançamentos e derramamentos acidentais diretamente na costa, como principal geradora deste tipo de poluição.
No contexto atual, a poluição orgânica de origem industrial é de menor relevância, face ao bom desempenho ambiental das principais indústrias com potencial de geração destas cargas, bem como, frente aos níveis de poluição de origem doméstica verificados na bacia, extremamente mais elevados que o potencial atual de geração industrial.
Por outro lado, os principais cursos d’água que recebem efluentes industriais são, rio Poços-Queimados, que drena áreas industriais do município de Queimados; Prata do Mendanha e Campinho, afluentes do Guandu-Mirim, que drenam as áreas industriais de Campo Grande, sendo que o primeiro também recebe as águas de lavagem da ETA­Guandu; o Canal do Itá, que drena as áreas industriais da porção leste da R.A. de Santa Cruz e o Canal Santo Agostinho, que drena o D.I. de Santa Cruz.
Quanto aos resíduos sólidos, considerável potencial de geração existente na bacia, o problema mais urgente situa-se no equacionamento dos passivos ambientais acumulados, em especial considerando-se a precariedade das condições de estoque das cargas acumuladas.


4 - Atividade de extração de areia

A região de Itaguaí é a principal supridora de areia para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sendo intensa a atividade de extração no leito dos rios e por meio de cavas.

Os principais métodos utilizados são:
extração em cava submersa: estes depósitos são diferenciados dos demais por não estarem nos leitos, porém nas planícies de inundação dos corpos d’água,
extração mecanizada em leito de rio: dragagem dos sedimentos do leito dos rios, por sucção; e
extração manual em leito de rio: em coluna d’água pouco profunda, retirada com pás e depositada em caixas de madeira.


Nesta região, lavras de areia, principalmente em ambientes de cavas submersas alcançam profundidades muito grandes, formando lagos de coloração verde piscina, são observadas, também, cavas abertas, de contorno irregular e de grande profundidade, muitas vezes interligadas em superfície com a calha do rio.
Esta atividade é a causa de grandes danos ambientais, cuja reparação é muito difícil, quando se procura restabelecer as condições naturais.
No rio Guandu a captação é seriamente prejudicada pelas mudanças fisico-químicas da água provocadas por esta atividade.
A descaracterização das margens propicia o seu repovoamento por um tipo de vegetação que, além de não fixá-las, se desprende e trazendo, também, problemas operacionais para a captação.
Em face desses fatos a Comissão Estadual de Controle Ambiental, por meio da deliberação CECA n0 3.554, de 02 de outubro de 1996, procurou traçar diretrizes para o disciplinamento e controle da atividade no Estado, principalmente na sub-bacia do rio Guandu, com a suspensão da concessão de novas licenças para empreendimentos de extração de areia e, para aqueles já instalados, que não tenham requerido a licença de extração no leito do rio Guandu, no trecho compreendido entre a Usina Pereira Passos e a barragem da ETA-Guandu.
O condicionamento de adoção de projetos de recuperação das margens do rio e de medidas compensatórias por danos ambientais, imposta aos núcleos de extração de areia e esta deliberação, aplica-se também, aos rios contribuintes do rio Guandu.



Parâmetros de Qualidade das Águas

De forma genérica, a poluição das águas decorre da adição de substâncias ou de formas de energia que, diretamente ou indiretamente, alterem as características físicas e químicas do corpo d’água de uma maneira tal, que prejudique a utilização das suas águas para usos benéficos.
Torna-se importante ressaltar a existência de duas formas distintas, pelas quais as águas poluídas atingem um determinado corpo receptor (rio, baía, lago, lagoa, laguna, reservatório, aqüífero subterrâneo e o mar).
A primeira, denominada fonte ou poluição pontual, refere-se, como o próprio nome esclarece, à poluição decorrente de ações modificadoras localizadas. E o caso, por exemplo, da desembocadura de um rio, de efluentes de uma estação de tratamento de esgotos domésticos ou industriais, ou mesmo, a saída de um tronco coletor de esgotos domésticos sem tratamento, ou ainda a saída no mar, de um emissário submarino.
A segunda, poluição difusa, se dá pela ação das águas da chuva ao lavarem e transportarem a poluição nas suas diversas formas espalhadas sobre a superfície do terreno (urbano ou não) para os corpos receptores. A poluição difusa alcança os rios, lagoas, baías, etc., distribuída ao longo das margens, não se concentrando em um único local como é o caso da poluição pontual.
O grau de poluição das águas é medido através de características físicas, químicas e biológicas das impurezas existentes, que, por sua vez, são identificadas por parâmetros de qualidade das águas (físicos, químicos e biológicos).
De uma maneira geral, as características físicas são analisadas sob o ponto de vista de sólidos (suspensos, coloidais e dissolvidos na água) e gases. As características químicas, nos aspectos de substâncias orgânicas e inorgânicas e as biológicas sob o ponto de vista da vida animal, vegetal e organismos unicelulares (algas).

4.1. Principais Parâmetros de Qualidade das Águas

Os principais parâmetros físicos de qualidade das águas são: cor, turbidez, sabor, odor e temperatura. Os químicos, pH (acidez e alcalinidade), dureza, metais (ferro e manganês), cloretos, nitrogênio (nutriente), fósforo (nutriente), oxigênio dissolvido, matéria orgânica, micropoluentes orgânicos e micropoluentes inorgânicos como os metais pesados (zinco, cromo, cádmio, etc).
Finalmente, os parâmetros biológicos são analisados sob o ponto de vista de organismos indicadores, algas e bactérias.
O presente trabalho, para não ser demasiadamente amplo e cansativo, busca a avaliação evolutiva da qualidade das águas na zona costeira do Estado do Rio de Janeiro através de alguns parâmetros que representam na sua essência, o diagnóstico básico sob os aspectos químicos e biológicos das águas e, conseqüentemente, do grau de poluição. Além disso, é importante ressaltar que a presente análise deu-se em função da disponibilidade de dados monitorados junto às coleções hídricas pelas instituições ambientais e de pesquisas oficiais do Estado do Rio de Janeiro e outros de interesse especifico acadêmico.
Dentro do universo de dados e informações levantadas junto àquelas instituições, o trabalho limitou-se, a principio, aos seguintes parâmetros de qualidade de água:

· Oxigênio Dissolvido (OD);

· Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO);

· Nitrogênio Amoniacal (NH3);

· Nitrogênio Kjeldahl (NTK);

· Nitrato (NO3);

· Fósforo Total (PT);

· coliformes fecais (COLI. F);

· clorofila;

· Metais Pesados.


Para melhor compreensão das finalidades de utilização destes parâmetros, faz-se a seguir, esclarecimentos sobre cada um deles:


A. Oxigênio Dissolvido (OD)
O oxigênio dissolvido (OD) é geralmente medido em miligramas por litro (mg/l) da água analisada. Provém, em geral, da dissolução do oxigênio atmosférico, naturalmente ou artificialmente, e também, da produção liberada por alguns microorganismos vivos na água (algas e bactérias).
O oxigênio dissolvido é vital para os seres aquáticos aeróbicos (dependentes de oxigênio). O nível de disponibilidade de OD na água vai depender do balanço entre a quantidade consumida por bactérias para oxidar a matéria orgânica (fontes pontuais e difusas) e a quantidade produzida no próprio corpo d’água através de organismos fotossintéticos, processos de aeração natural e/ou artificial. Se o balanço do nível de OD permanece negativo por tempo prolongado, o corpo d’água pode tornar-se anaeróbico (ausência de oxigênio), causando a geração de maus odores, o crescimento de outros tipos de bactérias e morte de diversos seres aquáticos aeróbicos, inclusive peixes.
Portanto, o OD é um dos principais parâmetros de caracterização dos efeitos da poluição das águas decorrentes de despejos orgânicos. A solubilidade do OD é função da altitude e da temperatura do corpo de água. Em geral, ao nível do mar e à temperatura de 20°C, a concentração de saturação é de 9.2 mg/l.
Vale informar que valores de OD inferiores ao valor de saturação podem indicar a presença de matéria orgânica e, valores superiores, a existência de crescimento anormal de algas, uma vez que, como já foi citado, elas liberam oxigênio durante o processo de fotossíntese.
Em resumo, o OD será consumido por bactérias durante o processo metabólico de conversão da matéria orgânica em compostos simples e inertes, como água e gás carbônico (CO2). Com isso, crescem e se multiplicam e mais oxigênio dissolvido será consumido enquanto houver matéria orgânica proveniente das fontes de poluição.

B. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é medida, em geral, em miligramas por litro (mg/l) e traduz indiretamente a quantidade de matéria orgânica presente no corpo de água. A matéria orgânica é formada por inúmeros componentes, como compostos de proteína, carboidratos, uréia, surfactantes (detergentes), gordura, óleos, fenóis, pesticidas, etc.
Esta matéria, carbonácea, apresenta-se em suspensão ou dissolvida, podendo ser biodegradável ou não. Dada a diversidade dos compostos e formas como se apresenta no corpo d’água, procura-se quantificá-la, indiretamente, medindo-se sua capacidade de consumo de oxigênio dissolvido na água, que se dá através das bactérias oxidantes.
A DBO padrão é aquela que representa o consumo de oxigênio no processo de oxidação da matéria orgânica presente em uma amostra de água durante o período de 5 dias e incubada a 200 C. A DBO padrão é universalmente utilizada e os dados apresentados neste trabalho foram obtidos desta forma.
A DBO padrão está associada à porção biodegradável da matéria orgânica de origem vegetal e animal e também àquela presente nos despejos domésticos industriais.
Vale informar que os esgotos domésticos possuem uma DBO em torno de 300 mg/l, que representa o consumo de 300 mg de oxigênio em 5 dias, à 20 C, no processo de estabilização da matéria orgânica carbonácea biodegradável presente em 1 litro de esgoto.
Resumindo, DBO alta significa presença de poluição através da matéria orgânica proveniente de fontes pontuais e/ou difusas de origem doméstica ou industrial.

C. Nitrogênio Amoniacal (NH3)
Antes de melhor caracterizar o parâmetro em questão, convém explicar resumidamente o ciclo do nitrogênio na biosfera. O nitrogênio manifesta-se no ambiente de diversas formas, quais sejam:

· Nitrogênio molecular (N2), livre na atmosfera;

· Nitrogênio orgânico (dissolvido e em suspensão no corpo d’água);

· Amônia (livre ­– N­H3 e ionizada – NH4);

· Nitrito (NO2);

· Nitrato (NO3).

No meio aquático, as diversas formas de nitrogênio podem ser de origem natural (proteínas, clorofila e outros compostos biológicos) e/ou de origem das atividades humanas e animais (despejos domésticos e industriais, excrementos de animais e fertilizantes). Nos esgotos domésticos frescos, predominam o nitrogênio em forma de amônia e o orgânico.
A importância do conhecimento da presença e quantificação do nitrogênio nas suas diversas formas na água refere-se ao consumo de OD necessário durante o processo de nitrificação, isto é, a conversão de nitrogênio amoniacal a nitrito e este a nitrato e, principalmente, a proliferação de algas que tem no nitrogênio um elemento vital para seu crescimento.
Cabe salientar que o crescimento descontrolado de algas (floração das águas), em determinadas condições do corpo d’água pode acarretar processos de eutrofização.
A eutrofização é um fenômeno indesejável, pois modifica substancialmente as características físicas, químicas e biológicas do corpo d’água. O crescimento excessivo de vegetação aquática, eventuais maus odores, mortandade de peixe, mudança radical de cor, diminuição excessiva de OD, secreções tóxicas de certas algas, etc., são algumas das conseqüências do fenômeno.
Os processos de eutrofização somados ao de assoreamento, aumentam gradativamente, o material sedimentado no fundo (matéria orgânica em suspensão, vegetação aquática morta e sólidos carreados por processos erosivos), provocando, lentamente, a morte e o desaparecimento do corpo d’água.
Torna-se importante registrar mais uma vez, que a amônia pode ocorrer na forma livre, que é o nitrogênio amoniacal NH3, tóxica aos peixes e na forma ionizada (NH4), não tóxica.
Portanto, a medição do nitrogênio amoniacal, geralmente avaliado em miligramas por litro (mg/l) é importante não só para se constatar a presença de esgotos domésticos lançados recentemente no corpo d’água, mas também como um indicador de futuro consumo de oxigênio no processo de nitrificação anteriormente citado e possível crescimento de algas.

D. Nitrogênio Kjeldahl (NTK)
O nitrogênio Kjeldahl (NTK), medido em miligramas por litro (mg/l), nada mais é que a soma do nitrogênio orgânico com o nitrogênio em forma de amônia.
O NTK é a forma predominante do nitrogênio nos esgotos domésticos brutos e daí sua importância como parâmetro químico de qualidade das águas.
Dependendo do valor do pH dos esgotos, a amônia, parte integrante do NTK, pode-se apresentar na forma livre NH3 ou na forma ionizada NH4. Para valores de pH menores que 8, a amônia se apresenta na forma ionizada.

E. Nitrato (NO3)
Como citado anteriormente, o nitrogênio sob forma de amônia, se transforma com o tempo, dependendo das condições física e química do meio aquático, em nitrito e, posteriormente, em nitrato (nitrificação).
A presença de nitrogênio na forma de nitrato no corpo d’água é um indicador de poluição antiga relacionada ao final do período do processo de nitrificação ou pode caracterizar o efluente de uma estação de tratamento de esgotos sanitários a nível terciário, onde o processo de nitrificação é induzido e controlado com o objetivo de redução de nutrientes.
No Estado do Rio de Janeiro não existe nenhuma estação de tratamento a nível terciário operada pelo poder público.
O nitrato, medido em miligramas por litro (mg/l) de amostra d’água, pode sofrer também um processo de desnitrificação onde é reduzido a nitrogênio gasoso. Já foi comprovada a relação entre a concentração de nitrato e a ocorrência de cianose em crianças. A cianose provoca alterações na composição sangüínea, levando a pele a uma coloração azulada.
O nitrato em altas concentrações nas fontes domésticas de água (poços) pode trazer graves problemas de intoxicação tanto no ser humano como nos animais.


F. Fósforo Total (PT)

O fósforo total (PT) é medido geralmente em miligramas por litro (mg/l). A presença do fósforo na água pode se dar de diversas formas. A mais importante delas para o metabolismo biológico é o ortofosfato. O fósforo é um nutriente e não traz problemas de ordem sanitária para a água.
A presença de fósforo nas águas pode ter origem na dissolução de compostos do solo (escala muito pequena), despejos domésticos e/ou industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes.
A utilização crescente de detergentes de uso doméstico e industrial favorece muito o aumento das concentrações de fósforo nas águas.
Concentrações elevadas de fósforo pode contribuir, da mesma forma que o nitrogênio, para a proliferação de algas e acelerar, indesejavelmente, em determinadas condições, o processo de eutrofização.
Por outro lado, o fósforo é um nutriente fundamental para o crescimento e multiplicação das bactérias responsáveis pelos mecanismos bioquímicos de estabilização da matéria orgânica.


G. Coliformes Fecais (COLI. F)

As bactérias do grupo coliforme são utilizadas como indicador biológico da qualidade das águas. A contaminação das águas por fezes humana e/ou animal pode ser detectada pela presença de bactérias do grupo coliforme.
O grupo coliforme de bactérias se divide como indicador de contaminação fecal, da seguinte forma:

· coliformes totais (fecal e não fecal);

· Coliformes fecais (fecal);

· Estreptococos fecais (fecal).

No intestino dos seres humanos e animais predomina em grande número os coliformes fecais. Para se ter uma idéia, um indivíduo elimina, em média, 10 bilhões de coliformes fecais por dia. Além dos coliformes, existem, no meio intestinal, outras bactérias, vírus, protozoários e vermes, em números significativamente menores. Nesse meio intestinal, podem conviver agentes patogênicos, isto é, nocivos ao homem, como alguns tipos de bactérias que podem provocar diarréias fortes, febre, náusea e o cólera, alguns tipos de protozoários, responsáveis, inclusive, pela malária e vírus perigosos como aqueles que podem levar a hepatite infecciosa, gastroenterite, febre amarela, dengue e a paralisia infantil.
Assim sendo, na prática, a medição do número de coliformes fecais em um corpo d’água é um indicador não só da contaminação por fezes de origem humana e animal, como também da possibilidade de coexistência de organismos patogênicos.
A contaminação fecal é geralmente medida em número mais provável de coliformes por cem mililitros de água amostrada (NMP/1OOml).
Os órgãos ambientais utilizam-se deste indicador para diagnosticar também as condições para o banho de mar. Esse serviço informa à população a adequabilidade ou não de banho junto às águas litorâneas (excelente, muito boa, satisfatória e imprópria) e é denominado de condições de balneabilidade.


H. Clorofila
A clorofila é um tipo de pigmento que existe nos vegetais em geral, aí se incluindo os diversos gêneros de algas.
O papel da clorofila é fundamental na fotossíntese, isto é, no mecanismo de nutrição dos vegetais.
A clorofila faz o papel principal no processo, ao absorver a luz que, em seguida será aproveitada e transformada em outra forma de energia durante a síntese (transformação de estruturas simples em compostos orgânicos).
A reação de síntese que se passa nas células vegetais possuidoras de clorofila é uma fotoquímica, na qual o gás carbônico retirado do ar é combinado à água, consumindo energia armazenada pela clorofila, através da luz, para formar compostos orgânicos e como subproduto, o oxigênio. Portanto, o conhecimento quantitativo da clorofila permite estimar a capacidade de reoxigenação das águas no seu próprio meio, inferir sobre a densidade da população de algas e avaliar o aporte da quantidade de nutrientes.
As algas são, em geral, plantas microscópicas que podem se mover ao sabor das correntes por exemplo, o fitoplâncton ou se aderirem nas superfícies, como as algas bênticas.
Como citado anteriormente, a floração das águas, determina o crescimento anormal de algas no meio aquático pelo excesso de nutrientes (nitrogênio e fósforo).
A clorofila é medida, em geral, em microgramas por litro da amostra d’água.


Metais Pesados
I.Os metais pesados são micropoluentes inorgânicos provenientes, na sua maioria, de efluentes industriais e altamente tóxicos para a vida aquática.
Os principais metais pesados presentes nas águas em forma dissolvida são cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, níquel e zinco.
Em geral, as concentrações de metais pesados na água estão muito aquém dos padrões de qualidade estabelecidos. Por outro lado, a tendência dos metais pesados é de se aderirem aos sólidos em suspensão que por sua vez, sedimentam-se no fundo do corpo d’água.
Procura-se analisar as concentrações de metais pesados nos sedimentos, cujos valores podem ser significativos e representam uma ameaça para a biota e, conseqüentemente, ao ser humano que está no topo da cadeia alimentar.
Os metais pesados, além de serem tóxicos são cumulativos no organismo e podem provocar diversos tipos de doenças no ser humano com a ingestão de pequenas doses, por períodos consideráveis. Os metais são medidos, geralmente, em miligramas por grama ou microgramas por grama, expressos em peso seco.



Padrões de Qualidade das Águas

Os padrões de qualidade das águas são as características de ordem física, química e biológica desejáveis nas águas em função dos usos preponderantes estabelecidos pela sociedade.
Usos preponderantes são os usos benéficos determinados para um certo corpo d’água. Os usos benéficos são os que promovem benefícios econômicos e/ou o bem estar e a boa saúde da população.
O governo brasileiro, através do Conselho Nacional de Meio Ambiente — CONAMA, fixou pela Resolução n0 20, de 18 de junho de 1986, nove classes para as águas superficiais brasileiras, sendo cinco para as águas doces, duas para as águas salinas e duas para as águas salobras.
Na Resolução, as águas salobras são diferenciadas das águas salinas em função da salinidade, expressa em partes por milhão (ppm), isto é, miligramas por quilo ou ainda, em partes por mil (%0), isto é, grama por quilo.
A salinidade traduz o teor de sais dissolvidos ou em suspensão, dentre os quais pode-se destacar os cloretos de sódio, magnésio e cálcio, os sulfatos de magnésio, potássio e cálcio e os carbonatos e nitratos de cálcio e magnésio.
Na Resolução, considerou-se para fins de classificação, águas salobras como aquelas com salinidade maior que 0.5 partes por mil (%). As águas salinas como aquelas com salinidade maior ou igual a 30 partes por mil (%).
Como o presente relatório refere-se à zona costeira, o interesse recai nas águas salinas, que, segundo a Resolução n0 20, podem ser enquadradas nas classes 5 e 6.

Os usos preponderantes definidos para a classe 5 são:

· Recreação de contato primário (banho de mar);

· Proteção das comunidades aquáticas (fauna e flora);

· Criação natural e/ou intensiva (aqüicultura) de espécies destinadas à alimentação humana.
Para a classe 6 são:

· Navegação comercial;

· Harmonia paisagística;

· Recreação de contato secundário (navegação de lazer e esportiva).


Cabe aqui fazer um breve parênteses e relembrar as diferenças entre águas costeiras, águas da plataforma e águas de correntes.
No campo da oceanografia, considera-se águas costeiras aquelas presentes nas baías e enseadas e junto à costa de uma maneira geral, onde a salinidade pode apresentar valores menores que 30 %, dada a influência das águas doces escoadas pelos cursos d’água afluentes e as características da circulação.
As águas costeiras também conhecidas como marinhas interiores sofrem influência direta da forma e condições da ocupação do solo da faixa litorânea.
As águas da plataforma encontram-se entre as águas costeiras e aquelas que apresentam uma profundidade de até 200m.
As águas de correntes (oceânicas), presentes nos oceanos, podem de uma maneira geral ser consideradas aquelas existentes além da profundidade de 200m, limite aproximado da plataforma continental.
As características físicas, químicas e biológicas dos três tipos de águas podem variar. Por exemplo, a vida vegetal e animal nas águas costeiras são diferentes daquelas presentes nas águas oceânicas. Nas águas costeiras, os teores de nutrientes (nitrogênio e fósforo) são bem superiores aos das oceânicas em decorrência das atividades humana, animal e vegetal ao longo da costa.
A salinidade das águas oceânicas pode variar entre 33 e 37%, enquanto nas águas costeiras podem cair abaixo de 30%.
As classes 5 e 6 estabelecidas pela Resolução CONAMA n0 20 referem-se àquelas com salinidade acima de 30%, isto é, águas salinas, quer sejam costeiras, da plataforma e oceânicas (de correntes).
Para cada uma das classes 5 e 6 são fixados padrões de qualidade de água sob os aspectos físicos, químicos e bacteriológicos.
A seguir, apresentam-se os limites e condições estabelecidas para cada uma das classes (Resolução CONAMA), determinando características desejáveis para as águas em consonância com os usos preponderantes previamente definidos.

Para as águas de Classe 5, são estabelecidos os limites ou condições seguintes:
a) materiais flutuantes: virtualmente ausentes;

b) óleos e graxas: virtualmente ausentes;

c) substâncias que produzem odor e turbidez: virtualmente ausentes;

d) corantes artificiais: virtualmente ausentes;

e) substâncias que formem depósitos objetáveis: virtualmente ausentes;

f) coliformes: para o uso de recreação de contato primário deverá ser obedecido o Art. 26 desta Resolução. Para uso de criação natural e/ou intensiva de espécies destinadas à alimentação humana e que serão ingeridas cruas, não deverá ser excedida uma concentração média de 14 coliformes fecais por 100 mililitros, com não mais que 10% das amostras excedendo 43 coliformes fecais por 100 mililitros. Para os demais usos não deverá ser excedido um limite de 1000 coliformes fecais por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês; no caso de haver, na região, meios disponíveis para o exame de coliformes fecais, o índice limite será de até 5000 coliformes totais por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês;

g) DB0s 5dias a 20º, até cinco mg/l 02;

h) OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/l 02;

i) pH: 6.5 a 8.5, não devendo haver uma mudança do pH natural maior do que 0.2 unidade;

j) substâncias potencialmente prejudiciais (teores máximos):
Alumínio: 1.5 mg/l Al
Amônia não ionizável: 0.4 mg/l NH3
Arsênio: 0.05 mg/l As
Bário: 1.0mg/l Ba
Berílio: 1.5mg/l Be
Boro: 5.0mg/I B
cádmio: 0.005 mg4 Cd
chumbo: 0.01 mg/l Pb
Cianetos: 0.005 mg/l CN
Cloro residual: 0.01 mg/l Cl
Cobre: 0.05 mg/l Cu
Cromo hexavalente: 0.05 mg/l Cr
Estanho: 2.0mg/l Sn
Índice de fenóis: 0.001 mg/l C6H5OH
Ferro: 0.3mg/l Fe
Fluoretos: 1.4 mg/IF
Manganês: 0.1 mg/l Mn
Mercúrio: 0.0001 mg/l Hg
Níquel: 0.1 mg/l Ni
Nitrato: 10.0mg/l N
Nitrito: 1.0mg/’IN
Prata: 0.005 mg/l Ag
Selênio: 0.01 mg/l Se
Substâncias tenso-ativas que
reagem com o azul de metileno: 0.5 mg/l LAS
Sulfetos como H2S: 0.002 mg/l S
Tálio: 0.1 mg/l Ti
Urânio total: 0.5 mg/l U
Zinco: 0.17 mg/l Zn
Aldrin: 0.003 mg/l
Clordano: 0.004 mg /l
DDT: 0.001 mg /l
Demeton: 0.1 mg/l
Dieldrin: 0.003 mg4
Endossulfan: 0.034 mg/l
Endrin: 0.004 mg/l
Epóxido de Hepta cloro: 0.00 1 mg/l
Heptacloro: 0.001 mg/l
Metoxicloro: 0.03 mg/l
Lindano (gama - BHC): 0.004 mg/l
Dodecacloro + Nonacloro: 0.001 mg/l
Gution: 0.01 mg/l
Malation: 0.1 mg/l
Paration: 0.04 mg/l
Toxa feno: 0.005 mg/l
Compostos organofosforados e
Carbamatos totais: 10.0 mg/l em Paration
2,4—D: 10.0mg/l
2,4,5— TP: 10.0 mg/l
2,4,5— T: 10.0 mg/l


Para as águas de Classe 6, são estabelecidos os limites ou condições seguintes:
a) materiais flutuantes: virtualmente ausentes;

b) óleos e graxas: toleram-se iridicências;

c) substâncias que produzem odor e turbidez: virtualmente ausentes;

d) corantes artificiais: virtualmente ausentes;

e) substâncias que formem depósitos objetáveis: virtualmente ausentes;

f) coliformes: não deverá ser excedido um limite de 4000 coliformes fecais por 100 ml em 80% ou mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês; no caso de não haver, na região, meio disponível para o exame de coliformes fecais, o índice limite, será de 20.000 coliformes totais por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 5 amostras mensais colhidas em qualquer mês;

g) DBO5dias a 20o, até 10 mg/l 02;

h) OD, em qualquer amostra, não inferior a 4 mg/l O2;

i) pH: 6.5 a 8.5, não devendo haver uma mudança do pH natural maior do que 0.2 unidades.

Cabe aos órgãos ambientais dos estados, territórios e Distrito Federal efetuar, não só o enquadramento dos corpos de água no âmbito das classes preconizadas pela Resolução CONAMA n0 20, como exercer atividade orientadora, fiscalizadora e punitiva junto às fontes de poluição que possam alterar os valores dos padrões de qualidade das águas da classe estabelecida para o corpo d’água receptor.
No Estado do Rio de Janeiro, FEEMA é a instituição responsável pelo enquadramento dos corpos d’água segundo o que determina a citada Resolução.



Dados e Conclusões:

1) Qualidade das Águas:

A FEEMA realizou campanhas de coleta e análise de parâmetros de qualidade das águas da Baía, no período de 1980 a 1986. Os valores de PH, OD, DBO, salinidade, resíduos não filtráveis, nitrogênio kjeldahl, nitrogênio nitrato, fósforo total, clorofila a, cádmio, chumbo, cobre, cromo, ferro, mercúrio, níquel e zinco foram determinados para cinco pontos de amostragem posicionados ao longo do litoral entre a Ilha de itacuruçá e Barra de Guaratiba.

A MULTISERVICE realizou medições desses parâmetros, com exceção de DBO, e de outros em 12 estações posicionadas de forma a cobrir praticamente todo o espelho d’água da Baía.
Em relação a poluição orgânica, os resultados obtidos pela FEEMA já apontavam a faixa costeira entre a Ilha da Madeira e o Canal do Ita, como área problemática em termos de presença de matéria orgânica, onde teores de DBO, tanto na superfícied como no fundo não atendem, muitas vezes, o padrão estabelecido para a classe 5 da Resolução CONAMA número 20, isto é, DBO até 5 mg/l, na qual as águas da Baía foram enquadradas.
Os valores médios de OD obtidos em 1990 pela MULTISERVICE, apesar de ao longo do litoral apresentarem teores menores que o mínimo medido pela FEEMA entre 80 e 86 variaram entre 5 e 6 mg/l na superfície por quase todo espelho d’água.
No caso de nutrientes, constatou-se em 1990, concentrações mais altas ao longo do litoral, entre a Ilha da Madeira e o Canal do Ita, sendo o nitrogênio nitrato em maior quantidade, atingindo teores de até 0,16 mg/l junto a desembocadura do Canal do Guandu.
Medições de fósforo total (0,08 mg/l máx) e nitrogênio amoniacal (0,12 mg/l máx) também apresentaram concentrações mais altas no trecho considerado, quando comparado com o restante da Baía.
Metais pesados foram medidos na água tanto pela FEEMA (80/86) quanto pela MULTISERVICE (90). Os teores de cobre, cromo e níquel obtidos pela FEEMA não violaram os padrões estabelecidos para a classe 5, sendo que a maioria dos resultados foram abaixo dos limites de detecção. Da mesma forma se comportaram os teores dos metais em questão. Da mesma forma se comportaram os valores dos metais em questão na campanha de 1990. Por outro lado, valores obtidos para concentrações de zinco, chumbo e cádmio, no período de 1980 e 1986 superaram algumas vezes os padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA número 20 para a classe 5.


Quadro
Comparação entre os Valores Medidos pela
FEEMA (80/86) e a MULTISERVICE (90) de
Cádmio, Zinco e Chumbo

Estação
FEEMA/MULT
Metal
FEEMA (1980/1986)
MULTISERVICE


MAX
MIN
MAX
MIN
SP 0371L
Cádmio
9.5
<1.0
<1.0
<1.0

Zinco
32
<1.0
130
34

Chumbo
340
<5.0
29
<5.0
SP029/A
Cádmio
6.5
<1.0
2.0
<1.0

Zinco
840
18
520
32

Chumbo
290
<5.0
19
<5.0
SP021/Z
Cádmio
2.0
<1.0
1.0
<1.0

Zinco
130
14
100
10

Chumbo
315
<5.0
25
<5.0
SP 006/X
Cádmio
<1.0
<1.0
<1.0
<1.0

Zinco
75
<10.0
26
<10.0

Chumbo
965
<5.0
29
<5.0
Observações
1- Valores em micrograma por litro (mg/l)
2- Padrão CONAMA – Classe 5: Cádmio até 5mg/l, Zinco até 170 mg/l, Chumbo até 10 mg/l
3- Os números em negrito significam violação da Classe 5
As estações SP029 (FEEMA) e A (MULTISERVICE), localizadas próximas ao Saco do Engenho, indicaram, mesmo em épocas e condições hidrodinâmicas diferentes, elevados teores de cádmio e zinco, possivelmente devidos aos estragos provocados pela Companhia Ingá.
Com relação a indicadores biológicos da contaminação por metais, a pesquisa realizada por Lima (1997), mediu os teores de cádmio, cobre, cromo e zinco em mexilhões Perna perna (Linné, 1789), em vária áreas costeiras ( Baía de Guanabara, Arraial do Cabo, Praias Oceânicas de Niterói, etc.), inclusive na Baía de Sepetiba, onde apresentaram as maiores concentrações.
Com relação a transparência das águas, fator importante nos processos de fotossíntese, que resultam com a presença de OD e nutrientes, no crescimento das algas, o trecho que apresentou menores índices coincide com o trecho mais problemático, isto é, entre a Ilha da Madeira e o Canal do Ita.


2) Qualidade dos Sedimentos:

Nos períodos de 1980 a 1986 e 1987 a 1989, a FEEMA analisou teores de zinco, cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio, manganês e níquel nos sedimentos superficiais de cinco estações de amostragem ao longo do litoral norte da Baía.
A empresa MULTISERVICE efetuou quatro amostragens em 1990, nos meses de março, abril, maio e junho. A qualidade dos sedimentos foi analisada e determinada para metais pesados.
Os resultados da MULTISERVICE quando comparados com os da FEEMA na campanha 87-89, considerando estações próximas, nada indicam com relação a possíveis aumentos nas concentrações de metais no sedimento, uma vez que os valores não se diferenciam muito.
De uma maneira geral, destaca-se a elevada contaminação dos sedimentos por zinco(2,5 mg/g máx) e cádmio(0,019mg/g max), trazendo conseqüente potencial perigo para a vida aquática pela bioacumulação.
Com relação ao zinco, as concentrações em moluscos capturados na Baía, como a ostra, chega a ser maior que 100 vezes o padrão máximo estabelecido pelo Ministério da Saúde (50 microgramas por grama/ peso úmido).
Já é fato notório a contaminação dos sedimentos da Baía por metais pesados, principalmente na sua parte interior, junto ao litoral norte. Existe a preocupação com relação aos trabalhos de dragagem para ampliação do Porto de Sepetiba, pois é sabido que esta intervenção aumenta a concentração de sólidos em suspensão, o que afeta a distribuição e a mobilidade de metais pesados como o zinco, cádmio, chumbo, cromo e cobre, que são fracamente ligados aos sedimentos.



Links

Página de Oceanografia da Uerj
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável



Bibliografia

COSTA HELDER. 1998. Uma Avaliação da Qualidade das Águas Costeiras do Rio de Janeiro. Fundação de Estudos do Mar. (Pg. 169-196).

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 1998. Avaliação da Qualidade da Água da Bacia da Baía de Sepetiba. Relatório obtido através de campanhas de monitoramento realizadas(OUT/95 a JUL/98).

MELGES-FIGUEIREDO, L. H. 1999. Contaminação das Águas e Sedimentos das Baías de Sepetiba e da Ilha Grande por efluentes Domésticos e industriais.

REZENDE, C. E. 1988. Balanço de Matéria Orgânica e Metais Pesados em um Ecossistema de mangue na Baía de Sepetiba-RJ. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense. Niterói.

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